Campo de Arroz

sexta-feira, 26 dezembro, 2008

Administração Intravenosa em bolus – Modelo de 2 compartimentos

Filed under: Equações diferenciais, Farmacocinética, Farmacologia — Campo de Arroz @ 22:56

http://campodearroz.com/blog/equacoes-diferenciais/administracao-intravenosa-em-bolus-modelo-de-2-compartimentos

Considerações para o uso deste modelo

Modelo de 2 compartimentos:

  • A droga no sangue não se equilibra rapidamente com tecidos extravasculares;
  • Há dois compartimentos: um central e um periférico (tecidual). O central representa o sangue e tecidos com alta perfusão. O periférico representa os tecidos em que a droga se equilibra mais devagar.

Administração em bolus:

  • Droga é administrada de uma vez no compartimento central (injeção intravenosa rápida);

Eliminação e transferência entre compartimentos:

  • Tanto a eliminação quanto a transferência entre compartimentos são processos de primeira ordem

Equação Concentração x Tempo

Administração IV em bolus - 2 compartimentos

Administração IV em bolus – 2 compartimentos

A modelagem segue o seguinte princípio:
  • Taxa de variação da concentração da droga no compartimento = Taxa de entrada da droga – Taxa de saída da droga
Para o compartimento 1, assume-se que a taxa de entrada é diretamente proporcional a concentração da droga no compartimento 2, sendo k_{21} a constante de proporcionalidade.
  • Taxa de entrada da droga (1) = k_{21}C_{t}
Ainda para o compartimento 1, assume-se que a taxa de saída é diretamente proporcional a concentração da droga no compartimento 1. Entretanto, temos duas formas de saída:
  • Taxa de saída da droga (1) = k_{12}C_{p}+k C_{p}

Para o compartimento 2, fazemos de forma análoga ao que fizemos para o compartimento 1:

  • Taxa de entrada da droga (2) = k_{12}C_{p}
  • Taxa de saída da droga (2) = k_{21}C_{t}
Observe que a taxa de variação da concentração da droga em relação ao tempo para um compartimento é dada por \displaystyle\frac{dC}{dt}. A modelagem para o problema em questão gera, então, um sistema de duas equações diferenciais:
  • \displaystyle\frac{dC_{p}}{dt}=k_{21}C_{t}-(k_{12}C_{p}+k C_{p}) (1)
  • \displaystyle\frac{dC_{t}}{dt}=k_{12}C_{p}-k_{21}C_{t} (2)
Um caminho para a resolução deste sistema é o uso da transformada de Laplace. Comecemos pela equação (1):
  • \displaystyle\mathcal L\left\{\frac{dC_{p}}{dt}\right\}=\mathcal L \{k_{21}C_{t}\}-\mathcal L\{k_{12}C_{p}+k C_{p}\}
  • s\mathcal L \{C_{p}\}-C_{p_{0}}=k_{21}\mathcal L\{C_{t}\}-(k_{12}+k)\mathcal L\{C_{p}\}
  • \mathcal L \{C_{p}\}(s+k_{12}+k )-C_{p_{0}}=k_{21}\mathcal L \{C_{t}\}
  • \displaystyle\mathcal L \{C_{t}\}=\frac{\mathcal L \{C_{p}\}(s+k_{12}+k )-C_{p_{0}}}{k_{21}} (3)

Apliquemos, então, a transformada de Laplace à equação (2):

  • \displaystyle\mathcal L\left\{\frac{dC_{t}}{dt}\right\}=\mathcal L\{k_{12}C_{p}\}-\mathcal L\{k_{21}C_{t}\}
  • s\mathcal L\{C_{t}\}-0=k_{12}\mathcal L\{C_{p}\}-k_{21}\mathcal L\{C_{t}\}
  • \mathcal L\{C_{t}\}(s+k_{21})=k_{12}\mathcal L\{C_{p}\} (4)

Substituindo (3) em (4):

  • \displaystyle\frac{\mathcal L \{C_{p}\}(s+k_{12}+k )-C_{p_{0}}}{k_{21}}(s+k_{21})=k_{12}\mathcal L\{C_{p}\}
  • (\mathcal L \{C_{p}\}(s+k_{12}+k )-C_{p_{0}})(s+k_{21})=k_{12}k_{21}\mathcal L\{C_{p}\}
  • \mathcal L \{C_{p}\}((s+k_{12}+k )(s+k_{21})-k_{12}k_{21})=C_{p_{0}}(s+k_{21})
  • \displaystyle\mathcal L \{C_{p}\}=\frac{C_{p_{0}}(s+k_{21})}{((s+k_{12}+k )(s+k_{21})-k_{12}k_{21})}
  • \displaystyle\mathcal L \{C_{p}\}=\frac{C_{p_{0}}(s+k_{21})}{s^{2}+(k+k_{12}+k_{21})s+kk_{21}} (5)
Para auxiliar a resolução, fazem-se as seguintes considerações:
  • a+b=k+k_{12}+k_{21}
  • ab=kk_{21}

Logo, voltando em (5):

  • \displaystyle\mathcal L \{C_{p}\}=\frac{C_{p_{0}}(s+k_{21})}{s^{2}+(a+b)s+ab}
  • \displaystyle\mathcal L \{C_{p}\}=\frac{C_{p_{0}}(s+k_{21})}{(s+a)(s+b)}
É possível, desta forma, usar o método das frações parciais:
  • \displaystyle\mathcal L \{C_{p}\}=\frac{C_{p_{0}}(s+k_{21})}{(s+a)(s+b)}=\frac{x}{(s+a)}+\frac{y}{(s+b)} (6)
  • \displaystyle\mathcal L \{C_{p}\}=\frac{C_{p_{0}}(s+k_{21})}{(s+a)(s+b)}=\frac{x(s+b)+y(s+a)}{(s+a)(s+b)}
  • \displaystyle\mathcal L \{C_{p}\}=\frac{C_{p_{0}}(s+k_{21})}{(s+a)(s+b)}=\frac{s(x+y)+xb+ya}{(s+a)(s+b)}
Portanto, temos que:
  • x+y=C_{p_{0}} (7)
  • xb+ya=C_{p_{0}}k_{21} (8)
Isolando y em (7):
  • y=C_{p_{0}}-x (9)
Substituindo (9) em (8):
  • xb+(C_{p_{0}}-x)a=C_{p_{0}}k_{21}
  • \displaystyle x=\frac{C_{p_{0}}(k_{21}-a)}{b-a} (10)
Substituindo (10) em (9):
  • \displaystyle y=C_{p_{0}}-\frac{C_{p_{0}}(k_{21}-a)}{b-a}
  • \displaystyle y=\frac{C_{p_{0}}(b-k_{21})}{b-a} (11)
Substituindo (10) e (11) em (6):
  • \displaystyle\mathcal L \{C_{p}\}=\frac{C_{p_{0}}(s+k_{21})}{(s+a)(s+b)}=\frac{\frac{C_{p_{0}}(k_{21}-a)}{b-a}}{(s+a)}+\frac{\frac{C_{p_{0}}(b-k_{21})}{b-a}}{(s+b)}
Finalmente, consegue-se aplicar a transformada inversa:
  • \displaystyle\mathcal L^{-1}\{\mathcal L \{C_{p}\}\}=\mathcal L^{-1}\left\{\frac{\frac{C_{p_{0}}(k_{21}-a)}{b-a}}{(s+a)}\right\}+\mathcal L^{-1}\left\{\frac{\frac{C_{p_{0}}(b-k_{21})}{b-a}}{(s+b)}\right\}
  • \displaystyle C_{p}=\frac{C_{p_{0}}(k_{21}-a)}{b-a}e^{-at}+\frac{C_{p_{0}}(b-k_{21})}{b-a}e^{-bt}
De uma forma mais simplificada:
  • \displaystyle A=\frac{C_{p_{0}}(k_{21}-a)}{b-a}
  • \displaystyle B=\frac{C_{p_{0}}(b-k_{21})}{b-a}
E finalmente:
  • C_{p}=Ae^{-at}+Be^{-bt}
Referência: Leon Shargel, Susanna Wu-Pong, Andrew B.C. Yu. Applied Biopharmaceutics & Pharmacokinetics. 5th edition, 2005.

quinta-feira, 25 dezembro, 2008

Administração Intravenosa em bolus – Modelo de um compartimento

Filed under: Equações diferenciais, Farmacocinética, Farmacologia — Campo de Arroz @ 18:02

Considerações para o uso deste modelo

Modelo de um compartimento:

  • Corpo age como um compartimento único;
  • Pode ser usado nas situações em que a droga no sangue se equilibra rapidamente com tecidos extravasculares;

Administração em bolus:

  • Droga é administrada de uma vez no compartimento (injeção intravenosa rápida);

Processo de Eliminação:

  • A eliminação da droga é um processo de primeira ordem

Equação Concentração x Tempo

Adm IV em bolus

Adm IV em bolus

O modelo compartimental para esta situação leva a seguinte equação diferencial de primeira ordem:

\frac{dC_{p}}{dt}=-kC_{p}

onde C_{p} é a concentração plasmática do fármaco e k é a constante de eliminação.

A equação pode ser resolvida por integração direta, por ser uma equação diferencial separável:

\frac{dC_{p}}{C_{p}}=-kdt

Quando o tempo varia de 0 a t, C_{p} varia de C_{p_{0}} a C_{p} , onde C_{p_{0}} é a concentração do fármaco no tempo t=0. Logo,

\int_{C_{p_{0}}}^{C_{p}} \frac{dC_{p}}{C_{p}}=\int_{0}^{t}- k dt

(ln|Cp|)]_{C_{p}=C_{p_{0}}}^{C_{p}=C_{p}}=(-kt)]_{t=0}^{t=t}

ln(C_{p})-ln(C_{p_{0}})=-kt

ln \left({\frac{C_{p}}{C_{p_{0}}}}\right) = -kt

\frac{C_{p}}{C_{p_{0}}}=e^{-kt}

C_{p}=C_{p_{0}}e^{-kt} (1)

Determinação de parâmetros farmacocinéticos

1) A partir de dados de concentração plasmática

1.1) Determinação de k

A idéia é transformar a equação (1) em uma equação linear. Para isto, calculamos o logaritmo natural de ambos os lados da equação:

ln(C_{p})=ln(C_{p_{0}}e^{-kt})

ln(C_{p})=ln(C_{p_{0}})-kt

Vendo ln(C_{p}) como a variável dependente e t como a variável independente, a equação acima é uma equação do tipo y=\alpha + \beta x , sendo \alpha = ln(C_{p_{0}}) e \beta = -k . A partir de dados experimentais, os valores \alpha e \beta podem ser determinados com o ajuste dos dados ln(concentração)-tempo a uma reta pelo método dos mínimos quadrados. O valor de k segue imediatamente, pois

k=-\beta

1.2) Determinação de V_{d}

Primeiro, deve-se determinar a concentração da droga no instante t=0:

C_{p_{0}}=e^{\alpha}

A concentração é a razão dose por volume de distribuição:

C_{p_{0}}={\frac{D_{B_{0}}}{V_{D}}}=e^{\alpha}

V_{D}={\frac{D_{B_{0}}}{e^{\alpha}}}

1.3) Determinação de Cl

Cl = k \cdot V_{d}

1.4) Determinação de t_{1/2}

Basta considerar dois intervalos de tempo distintos t_{1} e t_{2}, sendo que:

C_{p_{2}}=\frac{C_{p_{1}}}{2} ,

onde C_{p_{2}} é a concentração plasmática em t_{2} e C_{p_{1}} é a concentração plasmática em t_{1}.

Temos então que:

C_{p_{1}} = C_{p_{0}}e^{-kt_{1}},

C_{p_{2}}=C_{p_{0}}e^{-kt_{2}}

e, portanto,

C_{p_{0}}e^{-kt_{2}}=\frac{C_{p_{0}}e^{-kt_{1}}}{2}

e^{-kt_{1}+kt_{2}}=2

k(t_{2}-t_{1})=ln(2)

Mas como t_{2}-t_{1} = t_{1/2}

t_{1/2}=\frac{ln(2)}{k}

Referência: Leon Shargel, Susanna Wu-Pong, Andrew B.C. Yu. Applied Biopharmaceutics & Pharmacokinetics. 5th edition, 2005.

Blog no WordPress.com.